RECORDAÇÕES DA CASA DOS MORTOS
Minha mãe viveu encalacrada entre sua arte poética, suas diminutas crias e marido, la paramour, a cruz, o terço e a memória...
Ela trocou o mito de Sísifo, vivido na pia da cozinha, pela lavra de professora.
A ciência não salva, mas dá chaves. Para quem vive na prisão, uma chave é a toda-esperança.
No laboratório dessa vida, o fígado dos ratos, os cânceres dos ratos, o sexo dos ratos, os olhos e a noite-virada dos ratos refulgiam como nossos paradigmas mais caros.
A geometria nos transpassava revoltosos imaginários.
Passou pela nossa janela, na rua humilde, o circo Circe e seu elefante, meu primeiro irmão africano, quando a África era uma áfrica.
João Antonio Cajado Botelho
imagem: Alec Soth, a sra. Bonnie segura a fotografia que diz ser de um anjo
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