o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011


MORTE-ESCRITURA, MAURICE BLANCHOT
"A morte trabalha conosco no mundo: poder que humaniza a natureza, que eleva à existência o ser, ela está em nós, como nossa parte mais humana; ela é morte apenas no mundo, o homem só a conhece porque ele é a morte por vir. Mas morrer é quebrar o mundo: é perder o homem, aniquilar o ser; portanto, é também perder a morte, perder o que nela e para mim fazia dela morte. Enquanto vivo, sou um homem mortal, mas, quando morro, cessando de ser um homem, cesso também de ser mortal, não sou mais capaz de morrer, e a morte que se anuncia me causa horror, porque a vejo tal como é: não mais morte, mas a impossibilidade de morrer."

num outro ponto Blanchot esclarece o que a uns ainda é tão obscuro: a relação Morte-Escritura: 

"Escrever é ser atraído para fora do vivido, do mundo, em direção à Eurídice, aos infernos – espaço da escritura. Orfeu se volta para Eurídice, pois não voltar-se seria trair uma experiência simultaneamente essencial e arruinadora da obra, experiência onde se atinge o ponto extremo, o extremo risco, exigência paradoxalmente impossível da obra. A experiência é experiência da escritura, busca impossível da origem e da morte. É experiência da atração da origem: o desobrar; e impossibilidade de “olhar” a origem: o obrar."
Maurice Blanchot, 1997
imagem: Francesca Woodman

Um comentário:

  1. Recebi o convite e estou visitando. Belo blog, algumas coisas desconcertantes e necessárias. A poesia se alimenta da morte assim como da vida. Somos todos faces da mesma moeda. abraçis

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