a cisterna contém: a fonte transborda
de tudo retiro água
pra fazer funcionar o poema
mesmo da estátua enferrujada
de william blake dentro de um livro
se nada posso tocar na colheita
transgrido: roubo desfruto rapto
sem que nada aprenda & nada ensine
apenas espero veneno da água parada
anti-receita
rara é o palavro
raso o armadilho
rala é o pálpebro
roto o maravilho
curriculum mortis
fiz-me ao mar amargo da palavra
a morte é um cálice
cheio de silêncio
contamina o que antes fora água –
ferrugem rara sobre a relva
soletra-me seu nome
entre as pedras
o vento irado: espada afiada de dois gumes
ousa badalar os sinos que agonizam
tira dos gonzos a própria terra
consolador das crianças mortas
palavras afogadas no ódio
signé ana c.
toquei minha mão justo na mão de ana
portas nos separam ou nos mudam de lugar?
agora me pergunto se a presença do corpo é mesmo dispensável
não saber estilhaça meus sentidos
giro em torno do vazio feito um cão atrás da cauda
(quando criança costumava encher o rosto de creme
sempre foi de longe a mais vaidosa
musa transviva do amanhecer
depois namoro na praia & na montanha
a dor de pegar o avião & ir embora
a mãe amélia disfarçada em luiza
luz é símbolo da beleza absoluta)
vivo sem saber como vai ser o dia
uma escritora está sempre atrelada a seu personagem
ensaio palavras em francês pra ela ouvir
recados luminosos espalhados pelos quatro cantos do mundo
seleta do livro "não era suicídio sobre a relva"
ney ferraz paiva (2000)
Que maravilha, Ney! Só conhecia algumas coisas suas que li no facebook. Gostei muito destes poemas, parabéns!
ResponderExcluirBeijo.
grato, lara. também fui ao seu blog e gostei muito. bjs
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