"Senhor piedade pra essa gente careta e covarde" (Cazuza)
Vamos ao ponto: de tudo que vi e ouvi (uma vez que sou suplente e no Conselho Estadual de Cultura só falam os titulares) só pude compreender que houve discriminação contra o fato da Vice-Presidente Lúcia Rocha não poder assumir a Presidência do Conselho. Discriminação contra a mulher, a negra, a artista. Sobretudo por tratar-se de uma pessoa atuante, preparada e que não se omite na hora de cobrar, protestar e trabalhar a favor dos artistas e do interesse público, uma vez que deve ser essa a regra (se tiver que ter uma) de atuação de todo artista. Sabe-se lá o que é isso num contexto em que tudo o que os atuais gestores (!?) querem é tampar o sol com a peneira? É uma babaquice incontornável que se perca, digo, que se deixe desvanecer o momento de se reverter os desmandos (leia-se: roubos e crimes) praticados contra a cultura e a sociedade pelo Senhor Júlio Cesar Machado e seus asseclas – o tal Júlio das Machadadas contra a cultura do Tocantins, encastelado na Torre sobre a qual ainda pairam antigas nuvens negras. Ser artista hoje no Tocantins é ser um verdadeiro otário. O cara, engomadinho, colarinho branco (sacam, né?), pretensioso, põe a mão, ou melhor, mete a mão nos suados recursos (leia-se: dinheiro, mufunfa, grana), frauda e mente. Ou parodiando os fuzileiros navais de volta do Vietnam: “Enche a pança e enraba a cultura”! E tudo bem. E ainda demite a funcionária que o denunciou à justiça (até hoje não readmitida). Mas que justiça? Se por uma outra faceta dessa mesma história vem outro e te pretere porque não vai com a tua cara ou por causa da tua cor de pele ou pelo teu sexo. O que será que esses Senhores tanto temem? Uma mulher? Não deve ser, não deve ser. Por certo esses Senhores nem mesmo são racistas. Não devem ser, não devem ser. Estes Senhores apenas pensam que o Conselho de Cultura é uma adjacência de seus cargos, dos seus propósitos ou um anexo da Fundação Cultural. Ou seja, um mero e inocente erro de perspectiva. Não sabem estes Senhores tratar-se o Conselho de um colegiado de ideias e pensamento. De debates. Será isso que temem? Onde está escrito (e por que razão estaria?) que representante da sociedade civil não pode atuar como presidente do Conselho? Que tem que ser servidor público. Tais medidas, entendimentos e práticas obliteram o desenvolvimento humano e cultural do Estado. Apartam-nos das ressonâncias sempre benéficas e produtivas que a liberdade e a independência significam para o pensamento não pensado, para o novo e o diverso que toda sociedade civilizada espera dos seus artistas. Por que aqui não pode ser assim? Somos capazes de celebrar e nos identificar com o fato de um negro assumir a presidência de um país onde ele é absoluta minoria e, numa escala menor, mas como parte das mesmas causas e efeitos, não temos sensibilidade para ver força, potência quando o mesmo pode se dar bem junto a nós. Pior para todos, mas nem tanto para nós, artistas, que fazemos o que nos é dado fazer de um jeito ou de outro, mesmo sem fundo de cultura, lei de incentivo, getons, cachês, ou seja, fazemos contra tudo e contra todos o que fica e permanece. Pior para o Estado censor. Para os oportunistas. Os carreiristas. Os míopes por vocação. Os que nem vocação tem e aí se aferram por um pagamento particular, servil. Os que não sabem discernir entre o certo e o errado, desde que "certo" esteja para eles e para os seus. É disso que se trata? Então um outro refrão poderá ser entoado em meio ao caos dos desmandos, conchavos, manobras, ao vale tudo do poder e sua lógica excludente: “Cultura ruim – sociedade pior”. Aproveitem! Aproveitem! O tempo dos pequis passa...
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