o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

segunda-feira, 4 de abril de 2011






salomão & eu descíamos aquela rua
quase sem nos mover
em direção aos confins da garganta
verdadeiro fim do mundo
onde nem o amor pode penetrar
talvez a morte
explosiva expulsiva viagem
no mar uivador  à noite
assoviando palavras efêmeras
tiragens excessivas
a senha da juventude pra sempre esquecida
desfeito sailormoon saído igual a si
si mesmo barroco pirateado em diversas bastardias
animal de duplas vozes rizomático
como um tratado de filosofia
leio mais uma vez a cópia de seu último e-mail
"a alta & a baixa do café não servem mais pra poesia
viva o roteiro experimental & livre de Oswald!"
ele me dizia desbragado cavalo do diabo às tontas sem freio
a rua nos descia estreita alameda ou cova
leva o nome & não ao homem torquato neto
belo marujo a nos arrastar ao fervor das águas fundas
jovem sem idade embalsamado & enterrado de pé em Teresina
"meu corpo sou eu atravessando os andes comigo contigo"
como em qualquer porto marítimo
navios invisíveis serpenteando frondosos
nenhuma vivalma nos seguia
apenas esse morto labiríntico
certo da nossa breve estadia
na enseadalinguagem
onde o cerco se fecha
a viagem se abre
luxuosa & oceânica avenida
dois velhos bucaneiros sem navio


ney ferraz paiva, nave do nada, 2004

2 comentários:

  1. o poema surge de um encontro meu com waly na bela cidade de teresina em 2000. depois de tantos papos fomos a uma extensa alameda que leva o nome de torquato neto... a fala de waly era uma escrita.

    ResponderExcluir
  2. Que privilégio o seu de ter conhecido o grande poeta brasileiro, meio esquecido de certas gentes, mas muito bom, principalmente autêntico.

    Poema vertiginoso, sufoca, tira o fôlego, muito bom.

    ResponderExcluir