O
OLHAR DE MAX E AS CINZAS
Seria
de certa forma redundante dizer que a obra de Max Martins, pelo menos em um
dado momento, influenciou a minha, já que não conheço poeta paraense de minha
geração ou depois que não tenha sofrido, repito, em algum momento, esta
influência. Então prefiro contar aqui uma historieta que envolve um poema meu e
participação vital de Max Martins. Digo vital porque do resultado desta
situação dependia a vida ou a morte de um livro. Pouco antes de lançar meu
primeiro livro, este passou por uma prova de fogo. Estava carregando os
originais para ir para gráfica, quando encontrei com Max, na Casa da Linguagem, da qual era o diretor na época. Ele pediu para ler um poema e
dei-lhe, aleatoriamente, do maço que carregava, o poema Dezembro 92, dedicado
ao meu irmão que falecera. Ele pegou, leu e ficou em silêncio por,
aproximadamente, um minuto, para mim um longo e interminável minuto, durante o
qual ele olhava, alternadamente, para mim e para o poema, para mim e para o
poema, para mim e para o poema, e durante o que eu pensava: dependendo do que
ele disser este livro vai para a gráfica ou vai para casa. Ao final deste
instante de eternidade ele sentenciou, “este poema tem um ritmo extraordinário,
estranho, singular, diferente”. Alívio. O livro, então, foi pra gráfica.
Dezembro, 92
A Aluizio Tadeu
Entre
o labirinto de estrelas
e
a merda sob elas
ouço
o baque surdo
a
baqueta de osso, o tambor
O
toque imbatível de Cronos
A
mão sabotadora rubricando a cin
zas
um Não, um Z, um Ω
nas pálpebras de meu irmão
nas pálpebras de meu irmão
Antônio
Moura, Dez, 1996.
Ney Ferraz Paiva
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