o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

O OLHAR DE MAX E AS CINZAS



Seria de certa forma redundante dizer que a obra de Max Martins, pelo menos em um dado momento, influenciou a minha, já que não conheço poeta paraense de minha geração ou depois que não tenha sofrido, repito, em algum momento, esta influência. Então prefiro contar aqui uma historieta que envolve um poema meu e participação vital de Max Martins. Digo vital porque do resultado desta situação dependia a vida ou a morte de um livro. Pouco antes de lançar meu primeiro livro, este passou por uma prova de fogo. Estava carregando os originais para ir para gráfica, quando encontrei com Max, na Casa da Linguagem, da qual era o diretor na época. Ele pediu para ler um poema e dei-lhe, aleatoriamente, do maço que carregava, o poema Dezembro 92, dedicado ao meu irmão que falecera. Ele pegou, leu e ficou em silêncio por, aproximadamente, um minuto, para mim um longo e interminável minuto, durante o qual ele olhava, alternadamente, para mim e para o poema, para mim e para o poema, para mim e para o poema, e durante o que eu pensava: dependendo do que ele disser este livro vai para a gráfica ou vai para casa. Ao final deste instante de eternidade ele sentenciou, “este poema tem um ritmo extraordinário, estranho, singular, diferente”. Alívio. O livro, então, foi pra gráfica.




Dezembro, 92
A Aluizio Tadeu

Entre o labirinto de estrelas
e a merda sob elas
ouço
                 o baque surdo
a baqueta de osso, o tambor

O toque imbatível de Cronos

A mão sabotadora rubricando a cin
zas um Não, um Z, um Ω
nas pálpebras de meu irmão







Antônio Moura, Dez, 1996.
Ney Ferraz Paiva


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