o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

terça-feira, 15 de janeiro de 2013



O POETA MÁRIO FAUSTINO DESCE AOS INFERNOS E SOBE AO EMPYREAM



III. A QUEDA

Sempre ele girava perto demais do sol.
Enquanto Ícaro, ainda derretendo, cai
e cai, 
a queda de Mário tinha apenas
começado.
Lentamente o vácuo esvazia-se
e enche-se.
Os dijecta membra do pássaro
despencam
silenciados no vidro que totaliza o
grisalho do cabelo.
Separadamente a queda, as coisas,
elas flutuam abaixo separadamente.
Em chaminés sem fumaça, a fuselagem,
uma valise que se esvazia
(que vulneráveis pedras-de-toque!); e
fumegante destroço
suja as bordas do coração.
O rastro do jato pendeu um átimo de
um instante no ar.

Sempre ele girava perto demais do sol.
Enquanto Ícaro, ainda derretendo, cai
e cai,
a que da de Mário tinha apenas
começado.
Lentamente o vácuo esvazia-se
e enche-se. 

Quantos, Mário, anos! - quantos você 
sondou o ar,
deixando smoking e pijamas listados
longe para trás?
Rápido demais, rápido demais você
colidiu com os trajes da gravidade.

Por todo céu as estrelas estão caindo.
Lace
o céu, ele está caindo! Mas Lúcifer
que se despedaça
para sempre no perigo do dia-a-dia,
predestina os céus a voltarem a sua
ruptura de proteção.
Fossem ondas como anos, você, num
milênio de safira.
teria se banhado até o dia
do juízo final; 
mas, a morte conhece um atalho
você aventurou-se
a voar na onda abstrata do ar
apenas
para ser mutilado
na metáfora-sem-poema.
E todavia, rápido demais, oh Mário,
rápido demais,
você vestiu suas mudanças
cedo demais.
Atravessando o redemoinho, você
muda seu curso.
Você ultrapassa os levianos
coletadores-de-safira.
Você passa, vertigem do lento levante
das idades;
você, seu corpo como um feto
curvado, você, 
descarnando a semente do transilient
vácuo, você
amante até o fim, circundando o
espaço com seus braços.
Sua queda embaça meus olhos. Oh,
elevando-se para a sua face, meus dedos
congelam no cabo do machado de 
gelo,
haverá algum pico que você não ouse
trair?
Está você escondido, evadido,
daqueles que o amam?
Mário? você está tentando nos dizer
alguma coisa?
Mário-Lúcifer, o que você está 
tentando dizer?

Sempre ele girava perto demais do
sol.
Enquanto Ícaro, ainda derretendo,
cai e cai,
a queda de Mário tinha apenas
começado.
Lentamente o vácuo esvazia-se
e enche-se.


ROBERT STOCK
Robert Mapplethorpe, White gauze

Nenhum comentário:

Postar um comentário