o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


O CANDIDATO


Primeiro, você é a pessoa que queremos?

Você usa

Olho de vidro, dentes falsos ou muletas,

Cinta ou gancho,

Seios ou sexo de borracha,

Pontos para mostrar que lhe falta qualquer coisa? Não, não? depois

Como podemos dar-lhe alguma coisa?

Páre de chorar.

Abra sua mão.

Vazia? Vazia. Aqui está uma mão

Pronta a enchê-la e disposta

A trazer um chá e aliviar enxaquecas

E fazer tudo o que você disser.

Quer casar com ele?

É garantido

Para lhe fechar os olhos no fim

E dissolver de tristeza.

Fazemos tudo de novo com o sal.

Estou vendo que você está completamente nu.

Que tal este terno 

Preto e engomado, e bem ajustado.

Vai casar com ele?

É impermeável, à prova de choque, está provado

Que é contra incêndio e bombas no telhado.

Acredite em mim, vão enterrá-lo com ele.

Agora sua cabeça, desculpe-me, está vazia.

Eu tenho o bilhete para isso.

Venha aqui, querida, fora do armário.

Bem, o que você acha disso?

Nua como folha em branco para iniciar

Mas em vinte e cinco anos ela será prata,

Ouro em cinquenta.

Boneca de carne e osso, completamente.

Ela sabe costurar e cozinhar,

Ela sabe falar, falar, falar.

Ela funciona, não tem defeito.

Você tem um buraco, é um cataplasma.

Você tem um olho, é uma imagem.

Meu rapaz, é seu último recurso.

Você vai casar com ela, casar com ela, casar com ela.

Sylvia Plath, a partir do quadro "Homenagem a Mack Sennett", de René Magritte - escancarando os armários do feminino.
tradução: ney ferraz paiva

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