o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

domingo, 29 de julho de 2012

De Max Martins para vocês


Amemo-nos neste instante, minha alma: Há
 coisas entre nós que não sabemos, ou
 ainda não são
                     são álibis

Max Martins, “Exílio 2”


Em "Mal de Arquivo", de Jacques Derrida, se percebe não haver nem neutralidade, nem inocência quando se trata de preservar a memória. A “mal-estrelada/Memória arfante” do célebre poema de Mário Faustino. Se a grande obra está sempre em expansão, pode acontecer também, por vezes, dela cair no exílio. Grafônomo até o fim, Max Martins tem ainda boa parte de um acervo inédito, avulso, disperso a ser reunido – bilhetes, notas, colagens e principalmente cartas que o poeta enviou em todas as direções, como comprova o livro recentemente lançado em São Paulo "Cartas ao Max", de Élida Lima. E doravante o lugar de chegada desse material é o Museu da UFPA, que já abriga o acervo reunido pela família, e que inclui as edições originais dos livros do poeta, biblioteca, diários e objetos pessoais. Autor de uma obra artística vigorosa, Max Martins deve figurar naturalmente em qualquer bibliografia avançada dos estudos contemporâneos de poesia. Daí a grande expectativa pela entrega do acervo que o Museu mantém sob sua guarda desde 2010.
A petição que circula no ambiente rarefeito da internet demonstra a constelação dos interesses e os ecos que a obra propaga. O documento reivindica exatamente maior urgência no trabalho de catalogação do acervo. Não que isso em momento algum pretenda desqualificar a instituição que já abriga outros importantes acervos, como os de Eneida de Moraes, Vicente Salles, Silveira Neto. Antes, manifesta a preocupação com a disponibilização do acervo num espaço adequado de liberdade e criatividade, num formato de gestão não “empresarial” que nem sempre a instituição pública consegue empreender, sobretudo em face dos parcos recursos públicos e do descompromisso dos governos com a cultura. Outro aspecto que a petição evoca é maior visibilidade ao poeta Max Martins, e para tanto reivindica a adição do seu nome à Casa da Linguagem – ele para si mesmo nunca reivindicou tal coisa nem mesmo outra –, por tudo que esse homem, esse grande poeta criou e foi capaz de amar, e para que isso permaneça junto de nós, não só desde um letreiro, mas para além disso, pelo cruzamento de vida e personalidade artística radical, dionisíaca, capaz de afetar e se fundir ao tempo. 

Esse documento tomou forma a partir das discussões mantidas com leitores, estudiosos e familiares do poeta, sempre a partir das articulações poéticas que permanentemente a obra de Max Martins provoca no ambiente de cultura da cidade e mundo afora. E recai na urgência maior de se republicar a sua obra.  Da mesma maneira, lembremo-nos ainda, como responsabilidade de curto prazo, do espólio de Paulo Plínio Abreu, Mário Faustino, Cauby Cruz, Bruno de Menezes, Ruy Barata, Lucinerges Couto, Maria Lúcia Medeiros. Da imensa força que eles ainda movimentam e da qual não podemos abrir mão, sem que a fúria do silêncio nos amesquinhe um pouco mais.


Ney Ferraz Paiva
imagem: Helena Almeida

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