o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

sexta-feira, 22 de julho de 2011


"Se não escrevo mais, é por estar farto de caluniar o universo. Sou vítima de uma espécie de desgaste. A lucidez e a fadiga venceram-me – falo de uma fadiga filosófica tanto quanto biológica , algo se rompeu em mim. Escreve-se por necessidade. Chega um tempo em que nada disso interessa mais. Em outras palavras, frequentei pessoas em demasia que escreveram em excesso, obstinadas pela produção, estimuladas pelo espetáculo da vida literária parisiense. Mas me parece que eu também escrevi demais. Um único livro teria bastado."

“Só tem essas convicções aquele que não aprofundou nada”. Esta frase de Emil Cioran praticamente resume o seu pensamento. Pertencente à grande tradição de despertadores de espíritos, da qual fazem parte Nietzsche, Pascal, Kierkegaard e Unamuno, o filósofo romeno foi, durante todo o século XX, uma espécie de posto avançado da oposição ao predomínio da técnica e da razão na sociedade moderna. Ferozmente independente, ele não admitiu mestres e, apesar de místico, nunca recorreu aos mestres da teologia para insurgir-se contra a progressiva coisificação do homem: “Um balbucio de Santa Teresa nos dá mais ideia de Deus do que toda a teologia de Santo Tomás de Aquino”.

Além de tudo, foi um dos maiores prosadores em língua francesa do século passado, apesar de ter adotado tardiamente o idioma. Em 1949 escreveu seu primeiro livro em francês: Breviário da Decomposição (Editora Rocco).

A crítica francesa da época se espantou. Afinal, quem era aquele jovem escritor, vindo de uma cultura periférica que arrogantemente atacava toda a filosofia contemporânea e, por tabela, toda a civilização ocidental? Pois é justamente isso o que Cioran faz nesse Breviário. As mitologias, as doutrinas, as linhas de pensamento, enfim, todas as certezas pedantes são submetidas à prova do fogo cioraniano, atiçado pela ironia e pelo sarcasmo amargo. Fazer com que seus leitores vivessem na dúvida e no assombro de encarar as falácias de quem quer tudo explicar pela razão: eis, em poucas palavras, a sofrida missão de Cioran.

2 comentários:

  1. cioran é o pessimismo ao alcance de todos - mas o que dá potência à escrita que ele exerce, muito mais do que seu estilo de falsário, é o volume interior das "mitologias" que recupera de uma época de infinitas distâncias. ele não negligenciou o trágico e sim ampliou a misteriosa fabulação que diz que a "vida para manter-se deve destruir-se".

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  2. Cioran era lúcido ao extremo, nunca foi pessimista e sim realista em demasia

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