o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

domingo, 25 de outubro de 2009

Menores



Kant respondeu à menoridade com a maioridade. Para ele, deveríamos seguir nosso próprio entendimento e não ser dirigidos pelos outros. Pensou como conservar a liberdade de religião, de propriedade, Estado laico e autonomia do indivíduo (consumidor e cidadão). Foucault reviu as considerações de Kant pela inovação e as recolocou nos tempos de agora, como maneira de existir livre, fora do alcance dos seguidores. Andando com Nietzsche e Deleuze, pela diferença revoltada, seguir nossa razão é também se assustar com os nossos instintos, perseguir um devir minoritário, o menor como linha de fuga. Diante da sociabilidade universal com base na uniformidade consagrada no Estado laico ou na utopia da sociedade igualitária, Max Stirner contrapôs a associabilidade. Stirner encarou Marx e Hegel e afirmou a possibilidade da vida em associação. Nietzsche, de certa maneira tocado por Stirner, os revirou novamente, e falou de miríades de associações. Nietzsche e Stirner afirmaram diferenças revoltadas, a vida da associação, as amizades sem transcendentalidades, dissolvendo a separação público (amizade pela cidade) e privado (amizade entre assemelhados), a vida dos modelos. A arte de viver ultrapassa a pessoalidade burguesa do artista, a coletividade organizada burguesa ou estatal, e traz existências que abalam normalizações, legislações, regulamentações. A maioridade em uma era de controles com regulamentações, diplomacias, negociações, programas, modulações e convocações à participação não se obtém mais pela razão universal, o aperfeiçoamento moral, o projeto de paz perpétua, o socialismo e a glorificação da democracia. A maioridade agora é a outra menoridade.


Edson Passetti


Imagem: Gerhard Richter

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