o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Amanhã passaremos a datar 1990. Entramos na última
dezena do milênio. Muda a minha noção de tempo?
Sim e não. A última dezena do milênio soa imperativa
com um longo rastro histórico que se arrasta em sinuosos
movimentos.
O meu tempo pessoal é fugaz, desaparece quando tento aflorar-lhe
o conteúdo.
Minkoswski introduziu em psicopatologia a noção de espaço
vivido, juntamente com a noção de tempo vivido.
As distâncias entre objetos, por exemplo, não são experienciadas
de maneira constante independentemente das situações
subjetivas. Minkowski descreve o espaço claro caracterizado
pela nitidez do contorno dos objetos, pela existência de
espaço livre entre as coisas.
Noutro tipo de espaço vivido, o espaço escuro, não se
trata de luz física, porém de sensação de se estar encobrido,
apertado, oprimido por uma obscuridade misteriosa.
Apaga-se a distância estre os objetos (distância vivida).
O espaço vital estreita-se sem perspectivas.


Sinto-me tentada a transpor estas noções de espaço claro
e espaço escuro aos diversos momentos e lugares da
História. Acredito que estamos vivendo um momento
que poderíamos chamar de momento de espaço obscuro.






Giselda Leirner, domingo, 31 de dezembro de 1989
Imagem: Ney Ferraz Paiva, colagem cobre fotografia de Giselda Leirner em Toulouse

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