o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ROBERT MAPPLETHORPE

O POETA MÁRIO FAUSTINO DESCE AOS INFERNOS E SOBE AO EMPYREAM


II. AS CONFRONTAÇÕES

A centelha-da-morte, negra
em vergão cinzento,
quebra-se, desoladamente, fria-
como-osso no vácuo de seu rastro.

Corredores andinos retorcem-se e

voltam-se
rumo a um minotauro que não é
poesia,
desconhecido a não ser por suas frias
recompensas
de contraforte, gendarme, pico e
desfiladeiro, 
de parede abrupta enfurecida contra
queda abrupta.
Ao nascer e pôr do sol há goles
blazonados  sobre a disjecta membra
de convulsão velha como pedra,
batida
e contra-batida; no entretanto,
o minotauro que não é poesia
estende-se no cinza; nuvem ou vapor
ilhando o gume,
espessa-se em rocha - fria, silente,
ameaçadora!
Com maciço intento, a geleira
avança.
As muralhas, inquisidoras dobras-
cinza
reúnem-se para pronunciar a
sentença no espaço.
O primeiro a morrer é o horizonte.
É tão escuro na barriga do 
minotauro
como aqui ao devolver do dia?  Logo
após,
infinitude, e então eternidade,
contrai-se,
morre. As lápides, emprestando
tempo para pagar tributo,
peroram sem inscrições ou graça.
O último a morrer é o próprio tempo.

A centelha-da-morte, negra em

vergão cinzento, quebra-se,
desoladamente, fria-como-osso no
vácuo de seu rastro.

Nascido, Mário, sob a sombra

lânguida da mangueira
sonha com seu fruto, as manchas
rosa e verde e amarelo
recorrendo em sua face, os ossos
do seu corpo em concerto com as
harmonias da rede, você estava
como agora eu o vejo, agora.
Meia-tarde. Silêncio, saturado de
amarelo,
aguarda a hora da jubilação.
Telhados de telha rubra
expandem o prazer do seu
círculo, e além do rio, a
jângal e mar
arredondam sua perfeita bolha
sempre sobre as praias
de explosão em iridescência.
Globos de cristal de resina
exsudam das mangas...
o pairar de beija-flores
remodelando as corolas dos
hibiscos... De pijama listrado
você transpira através da medida
labiríntica de um poema para as
paráfrases do touro.
Encurvado (para capturar a
miríade de perfumes)
e contas oleosas (brilhantes em
sua testa)
prejudicam seu sentido de
brevidade
que se vira e se retorce no dia
mais sanguinário do mês de Judas
até, no cerne pousado,
todo o mundo como linguagem
torna-se tesouro
transparente.

Mas a centelha-da-morte, negra

em vergão cinzento, quebra-se,
desoladamente, fria-como-osso no
vácuo de seu rastro.


ROBERT STOCK

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