o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010


Um comediante midiático




As máquinas desejantes são máquinas binárias, de regra binária ou regime associativo; uma máquina está sempre ligada a outra. A síntese produtiva, a produção de produção, tem uma forma conectiva: «El», «e depois»... É que há sempre uma máquina produtora de um fluxo e uma outra que se lhe une, realizando um corte, uma extração de fluxos (o seio/a boca). (Gilles Deleuze e Félix Guattari, O anti-édipo - capitalismo e esquizofrenia)

Lendo o texto de Ladislau Dowbor, publicado na revista eletrônica “Envolverde” a 25/10/2010, fui tocada por uma irresistível vontade de me enredar nas impressões expostas no texto e por uma daquelas coincidências impagáveis, havia tecido o seguinte comentário sobre a figura que abre o texto de Ladislau: Arnaldo Jabor. Discorri em torno da aparente unanimidade que o jornalista desfruta entre os pseudo-mídiaticos informados, aqueles que utilizam da ferramenta mais democrática que temos em mão (não é do voto que estou falando, mas de uma verdadeira máquina de guerra) – para se tornarem cada vez menos informados, ou deformados.

Arnaldo Jabor sempre a serviço do capital com um discurso disfarçado de dissonante, algo que leva ao riso, à ridicularização de temas muitas vezes relevantes, bloqueando com isso o debate, a reverberação e mobilização social em torno de temas caros à democracia. Contudo, o que poderia dizer Jabor desse “seio/boca” pensado por Deleuze/Guattari? E quem melhor alimentou as máquinas desejantes produtoras de fluxos? Junto com a resposta quase automática nós podemos pensar o Brasil como um enorme seio, belo e provocador, que deverá nos alimentar (não só aos bem nascidos, as tantas elites deste país) de todas as formas: doméstica, intelectual/científica, cultural, afetiva, artística, para o jogo, o prazer o deleite, a felicidade.

Não tivemos em muitos anos de estado democrático algo nem perto do que acontece hoje, em que a “palavra liberdade foi expulsa do pântano enganoso das bocas”, para se transformar em “algo transparente e vivo como o fogo, ou um rio”. E o que nos fornece essa liberdade? E aí penso não apenas na liberdade verborrágica, mas em algo ainda mais correlato, como a garantia do direito de ir e vir, o direito de ter acesso, o direito de trabalhar e não apenas trabalhar como um escravo da vontade e do poder do outro, mas trabalhar sob um sistema que garanta direitos fundamentais, como auxílio doença, creche, transporte etc.

Querendo ou não, foi sob esse governo que tivemos a aprovação da Lei Maria da Penha, a instituição da Secretaria Nacional de Igualdade Racial, a expansão dos auxílios aos estudantes, as Conferências de meio ambiente, de cultura, de segurança pública, de saúde, de educação e até do livro e biblioteca. Nesse governo de Luis Inácio Lula da Silva nos sentimos livres, debatemos, pensamos, tivemos apoio para criar. Aconteceu de termos ministros negro, acreano e, claro, ficamos sujeitos aos cortes de fluxos, aos enganos, à corrupção – prática defendida e aceita de forma corriqueira pela justiça, já que para crimes do colarinho branco não há punição. Para a sociedade resta se virar e compreender que a síntese produtiva se faz também dos desacertos e dos atos falhos. É o que teme Jabor?

A ele o espaço midiático para singelas teorizações. Cada um faz o que pode, embora se possa reparar de soslaio quem o contrata e a quem ele defende. Agora, sem essa de tentar colocar o país no divã, arranjar a todos essa culpa: ter votado no Lula. Ser o pai desrespeitado a nos passar um carão. E nos provar, num tortuoso comentário, que Lula é apenas um caso de dissidência das políticas do PSDB, com as quais aliciou a todos tanto quanto Édipo ainda é capaz de levar no papo as virgens sonhadoras. Lula chegou a 82% de aceitação graças aos serviços de FHC – quais mesmo estes serviços e a quem ele prestou? O que se sabe, ou melhor, o que a sociedade não quer mais rever (e que talvez tenha reduzido de vez nos créditos o nome desse senhor a uma sigla, enquanto Lula acrescentou mais este a seu emblemático nome) são os velhos capítulos de um novelão político, já que os avanços sociais protagonizados pelo governo Lula não admitem levantar audiência com reprises, quando muito, resgatar incautos saudosistas ou desatentos, que podem ver em Serra, dado a um tal efeito técnico, o personagem de uma boa anedota. Essa que Jabor não cessa de contar.


Juliete Oliveira

Um comentário:

  1. jabor quando muito um comentador desinformado, de tom teorizante e todo-poderoso - quem o há de temer? e a globo ainda acredita poder exercer um controle convencional sobre quem?

    ResponderExcluir