Lembrando Sartre
Caiu nas minhas mãos um livro extraordinário – A Ilha Deserta, de Gilles Deleuze (384 págs., Iluminuras). São artigos, entrevistas, ensaios esparsos do pensador francês morto em 1995. Folheando o volume, meio ao acaso, meio distraidamente, em meio à modorra pós almoço de domingo, a primeira frase de um artigo me chama a atenção: “Gerações sem ‘mestres’ são uma tristeza”, escreve Deleuze. Acho a frase um espanto porque a imagem de independência intelectual de Deleuze o fazia, em meu imaginário, uma pessoa que poderia se lamentar de qualquer coisa menos da ausência de um mestre. Ela pertence a um artigo emocionante chamado Ele foi meu mestre, que Deleuze publicou na revista Arts.
Logo descubro que o tal mestre em questão foi Jean-Paul Sartre, o que só aumenta o meu interesse. Admiro demais Sartre, o que não significa que preciso aderir a cada uma de suas idéias. Adesões acríticas não pertencem ao domínio da inteligência, mas da fé. Por isso, não interessa discutir se Sartre ou qualquer outro tinha razão em tudo, porque ninguém a tem. Mas por mais que possamos discordar de suas idéias ou posições, deve-se reconhecer que Sartre teve importância inegável na história política e do pensamento do século 20. Por isso acho engraçado quando fedelhos que nunca o leram decretam que está superado. Como poderiam saber disso?
Enfim, Deleuze, ao mesmo tempo em que descarta Merleau-Ponty e Camus como figuras secundárias da época, elege Sartre como a grande persona do seu tempo: “Na desordem e nas esperanças da Libertação, descobria-se, redescobria-se tudo: Kafka, o romance americano, Husserl e Heidegger, os acertos de contas sem fim com o marxismo, o impulso em direção a um novo romance…Tudo passava por Sartre, não apenas porque, sendo um filósofo, possuía o um gênio da totalização, mas porque sabia inventar o novo.”
Esse seria o “mestre” requerido por Deleuze – alguém através do qual passam as principais questões de seu tempo, recriadas e refratadas por seu modo de ver pessoal. O novo pode surgir daí. O artigo de Deleuze é de novembro de 1964. Um mês antes, Sartre havia recusado o Prêmio Nobel. Recusava a honraria de um mundo que pretendia contestar. Onde foram parar essas figuras?
Por Luizanin
Logo descubro que o tal mestre em questão foi Jean-Paul Sartre, o que só aumenta o meu interesse. Admiro demais Sartre, o que não significa que preciso aderir a cada uma de suas idéias. Adesões acríticas não pertencem ao domínio da inteligência, mas da fé. Por isso, não interessa discutir se Sartre ou qualquer outro tinha razão em tudo, porque ninguém a tem. Mas por mais que possamos discordar de suas idéias ou posições, deve-se reconhecer que Sartre teve importância inegável na história política e do pensamento do século 20. Por isso acho engraçado quando fedelhos que nunca o leram decretam que está superado. Como poderiam saber disso?
Enfim, Deleuze, ao mesmo tempo em que descarta Merleau-Ponty e Camus como figuras secundárias da época, elege Sartre como a grande persona do seu tempo: “Na desordem e nas esperanças da Libertação, descobria-se, redescobria-se tudo: Kafka, o romance americano, Husserl e Heidegger, os acertos de contas sem fim com o marxismo, o impulso em direção a um novo romance…Tudo passava por Sartre, não apenas porque, sendo um filósofo, possuía o um gênio da totalização, mas porque sabia inventar o novo.”
Esse seria o “mestre” requerido por Deleuze – alguém através do qual passam as principais questões de seu tempo, recriadas e refratadas por seu modo de ver pessoal. O novo pode surgir daí. O artigo de Deleuze é de novembro de 1964. Um mês antes, Sartre havia recusado o Prêmio Nobel. Recusava a honraria de um mundo que pretendia contestar. Onde foram parar essas figuras?
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