o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

quinta-feira, 1 de março de 2012

ISTO NÃO É UM FILME - MAS É COMO SE FOSSE




ISTO NÃO É UM FILME, mas se fosse – se é – será o último de Jafar Panahi, um dos mestres do neo-realismo iraniano, autor de clássicos com O BALÃO BRANCO, O CIRCULO e FORA DE JOGO, cineasta condenado à prisão por 6 anos, impedido de filmar por 20 anos, de escrever por outros 20, de ser entrevistado por tantos 20. O prêmio é grotesco, e sorria, se deu origem à morte simbólica de um artista.

Então o que se vê em tela é a não-história de um herói kafkiano vivendo sua farsa judicial. Preso em sua casa em Março de 2010, Panahi foi acusado de “propaganda contra o regime”, por roteirizar uma ficção baseada nos protestos decorrentes da reeleição do presidente Ahmadinejad em 2009: A história de uma menina aspirante à faculdade de artes, enclausurada em seu apartamento pelos próprios pais.

Filmado clandestinamente, contrabandeado para o exterior em um pen-drive dentro de um bolo, ISTO NÃO É UM FILME é um documento precioso que fornece uma grande variedade de respostas, crônica de um dia na vida de Jafar Panahi que nada mais pode fazer além de tomar café da manhã, telefonar ao seu advogado, fazer planos em um apartamento vazio e, depois, pedir à Mojbata Mirtahmasb, um amigo documentarista, para filmá-lo enquanto lê trechos de sua história censurada. E o que vemos não é uma história, mas um cineasta aos gritos, vivendo em círculos, amordaçado e silenciado.

Tomando literalmente a sentença para transformá-la em diversão e palco, usando uma fita como marcação de chão, o primeiro plano do filme imaginário falhou. Então se vê a raiva inútil, o apego às telas de computador, TV e celular, a meditação na companhia de uma iguana. Em suma, a ociosidade, a ansiedade e ainda a recusa da resignação extraordinária que acompanha o simples fato de ser “ex-cineasta”.


Tudo isso resulta em uma sequência final de virtuosismo impressionante. As imagens são assim: Reais. Verdadeiras. Ilegais? Sim. Mirtahmasb é de fato preso, depois de filmar seu não-filme. Uma fita rudimentar, artesanal, mas cuja ousadia é a imagem da insurgência e o sinal da crença inabalável em alguma liberdade, por menor que seja, a do mestre em seu cativeiro.

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