ABOLIÇÃO DA ESCRIVANINHA3
livro inconfesso fechado em segredos
não abre [dedo-duro] a boca
não rima – que terá a ver ainda
poesia com rima?
não terá a ver com fome?
A literatura desestabiliza, abala, esgarça mais ainda as feridas.
Saquei na pré-conferencia de "literatura livro leitura" realizada em Brasília esta semana por que a grande literatura não entra nas escolas e incontáveis gerações vêm se formando sem conhecê-la.
É que caímos no abismo das simplificações!
Vou insistir: Caímos didaticamente no abismo das simplificações!
E mais: Caímos estatisticamente no abismo das simplificações!
Descemos aos infernos da idiotização e do atraso.
Isso tudo agradeçamos à Escola!
Vejam: outro dia minha filha chegou em casa com o “livro” de resumo de Dom Quixote. Em casa há pelo menos três traduções de Dom Quixote que ela conhece. E a escola dá a ela um resumo. É assustador!
Não é difícil constatar que num ambiente favorável à desolação as ervas daninhas proliferem.
Professores não são mais leitores. E, no entanto, avaliam e indicam que livro a escola deve comprar.
Na avaliação que fizemos do Plano Nacional do Livro e Leitura durante a pré-conferência "literatura livro leitura", no texto em que existia a palavra “não-didático” trocamos por "literatura". Uma tentativa premente de se recuperar o sentido da leitura que devemos todos aplicar nos ambientes de cultura, o da literatura estritamente literária. É ela que empurra a sociedade pra frente.
Na pré-conferência, no meu grupo de trabalho, além de mim tinha apenas outra escritora. A pressão das editoras de livros escolares e das sacerdotisas da Verdade - as bibliotecárias, sempre no ataque com seus programas de leitura e seus didatismos seculares, seus rituais simplificadores que abolem de vez os grandes autores das escolas, e o acesso, nas fases iniciais, aos clássicos. Isso então, pra elas, chega a ser uma heresia. Não vêem que todo o fracasso escolar a que estamos lançados advém daí. De não ler a grande literatura, não ler no sentido literário.
Insisti na proposta de que as bibliotecas devem ampliar seus horários de funcionamento. Há bibliotecas que só funcionam miseravelmente no horário comercial. Jamais visam atender os trabalhadores, por exemplo. Isso deu pano pras mangas. E muita incompreensão. Mas se o governo federal quer zerar os municípios brasileiros sem bibliotecas, que seja, mas só isso não basta. É preciso garantir o funcionamento e o acesso a todos. Tinha que virar política de governo e lei. Que as bibliotecas públicas funcionassem 15 horas diárias. E engendrar e intensificar as demais políticas. Sem desenvolvimento humano não há, de fato, crescimento e cidadania.
PS: minha filha está lendo agora, sob indicação da escola, o livro "Mudando de casca" (Giselda Laporta Nicolelis, da Moderna). Vejam a pérola: "Aquele pirralho era pior que grude; um pentelho! Será que nem seu programa favorito ele podia assistir em paz?".
É pra chorar, não?
livro inconfesso fechado em segredos
não abre [dedo-duro] a boca
não rima – que terá a ver ainda
poesia com rima?
não terá a ver com fome?
A literatura desestabiliza, abala, esgarça mais ainda as feridas.
Saquei na pré-conferencia de "literatura livro leitura" realizada em Brasília esta semana por que a grande literatura não entra nas escolas e incontáveis gerações vêm se formando sem conhecê-la.
É que caímos no abismo das simplificações!
Vou insistir: Caímos didaticamente no abismo das simplificações!
E mais: Caímos estatisticamente no abismo das simplificações!
Descemos aos infernos da idiotização e do atraso.
Isso tudo agradeçamos à Escola!
Vejam: outro dia minha filha chegou em casa com o “livro” de resumo de Dom Quixote. Em casa há pelo menos três traduções de Dom Quixote que ela conhece. E a escola dá a ela um resumo. É assustador!
Não é difícil constatar que num ambiente favorável à desolação as ervas daninhas proliferem.
Professores não são mais leitores. E, no entanto, avaliam e indicam que livro a escola deve comprar.
Na avaliação que fizemos do Plano Nacional do Livro e Leitura durante a pré-conferência "literatura livro leitura", no texto em que existia a palavra “não-didático” trocamos por "literatura". Uma tentativa premente de se recuperar o sentido da leitura que devemos todos aplicar nos ambientes de cultura, o da literatura estritamente literária. É ela que empurra a sociedade pra frente.
Na pré-conferência, no meu grupo de trabalho, além de mim tinha apenas outra escritora. A pressão das editoras de livros escolares e das sacerdotisas da Verdade - as bibliotecárias, sempre no ataque com seus programas de leitura e seus didatismos seculares, seus rituais simplificadores que abolem de vez os grandes autores das escolas, e o acesso, nas fases iniciais, aos clássicos. Isso então, pra elas, chega a ser uma heresia. Não vêem que todo o fracasso escolar a que estamos lançados advém daí. De não ler a grande literatura, não ler no sentido literário.
Insisti na proposta de que as bibliotecas devem ampliar seus horários de funcionamento. Há bibliotecas que só funcionam miseravelmente no horário comercial. Jamais visam atender os trabalhadores, por exemplo. Isso deu pano pras mangas. E muita incompreensão. Mas se o governo federal quer zerar os municípios brasileiros sem bibliotecas, que seja, mas só isso não basta. É preciso garantir o funcionamento e o acesso a todos. Tinha que virar política de governo e lei. Que as bibliotecas públicas funcionassem 15 horas diárias. E engendrar e intensificar as demais políticas. Sem desenvolvimento humano não há, de fato, crescimento e cidadania.
PS: minha filha está lendo agora, sob indicação da escola, o livro "Mudando de casca" (Giselda Laporta Nicolelis, da Moderna). Vejam a pérola: "Aquele pirralho era pior que grude; um pentelho! Será que nem seu programa favorito ele podia assistir em paz?".
É pra chorar, não?
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