o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

REDESENHAR O RISCO

REDESENHAR O RISCO


A arte está em risco – A arte está por um risco. Rosana Ricalde arrisca-se aos revezamentos alternativos e radicais ao se associar aos “desenhadores de palavras” (Mallarmé, Apollinaire, Ezra Pound, Mário Sá-Carneiro, e. e. cummings) e menos, bem menos, aos “autores de imagens”, todos eles, sem exceção. Riscalde não se contenta com o olhar distante dos que contemplam nos museus e galerias; ela quer o olhar atônito dos que devoram, dos que transitam sem destino a cidade e as ruas, a querer saber, a indagar-se como um Josef K, sem dar a mínima para as descrições, paisagens, estações. Riscalde busca as conexões do olhar – olhares & proliferações que o texto, antes, anuncia nas suas reações, nos seus deslimites e atravessamentos. Suas palavras não saltam de um espelho e sim de um lago. Ali estamos submersos, afogados. O cotidiano que torna a ser, infinitamente, não nos devolve a nossa face. Somos agora a caligrafia de um mito que se simula. Redesenhados. Riscados. Corpos e linguagens de erros, distorções. Submersos aí, irreconhecíveis. Atraídos cada vez mais pela dissimilitude dos jogos e brincadeiras de uma infância que a todos escapa, mas que por vezes retorna, incrustada silenciosamente na carne. O pintor Francis Bacon afirmou serem os açougues suas catedrais. Ricalde não é menos dramática ao nos lançar de volta a nossas lembranças, que não deixam de se constituir numa lógica de sensações animais, maquínicas, do nosso nomadismo subjetivo e cultural.





Ney Ferraz Paiva

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