o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

domingo, 15 de julho de 2018

MÃO NA MASSA:

UMA CONVERSA SOBRE LIVROS ARTESANAIS


Evento Literário com as poetas Luiza Leite Tatiana Podlubny Izabela Leal. Conversações, leitura de poemas e lançamento do livro Retratos Sob Disfarce Para Mulheres Sob Disfarce. Mediação: Estela Rosa. Realização: Mulheres que escrevem e Edições 1/4.

16 de Julho 19 h | Bar O Plebeu

Rua Capitão Salomão 50 Botafogo - RJ



UNICA ZÜRN










ÚLTIMO ADEUS IV



em geral sou pesada feito chumbo
nada me salva num naufrágio

boia de borracha bote apito
sinal luminoso colete salva-vidas
vou direto pro fundo em movimentos largos
balé subaquático nado sincronizado

fiz de tudo na hora da partida
embarquei  às pressas
soltei as amarras só de sacanagem
de vez em quando posso até morrer na praia
enrodilhada em algas e sargaços

outras vezes também me distraio
envio bilhetes da Inglaterra
cartões postais de uma viagem à Itália

já não dou corda pros teus chiliques
nem lanço âncora em qualquer enseada
e sequer penso em afundar navios

mas um dia ainda me afogo no álcool


Izabela Leal, Retratos fora de foco para mulheres sob disfarce, Belém: Edições 1/4, 2018.


























quarta-feira, 14 de março de 2018


Porque eu vou morrer


Stop.
Pára Hércules, solta o Leão de Neméia.
Entope Gibraltar.
Descansa um momento e chora,
porque eu vou morrer.

Aquieta-te Nero,
apaga o fogo de Roma,
larga os cristãos,
segura tua harpa e chora,
porque eu vou morrer.

Escuta Colosso de Rodes,
larga essa tocha,
fecha esse porto,
te senta um pedaço e chora,
porque eu vou morrer.

Acalma-te mar,
descansa tuas águas,
enxuga tuas praias,
afoga-te em ti e chora,
porque eu vou morrer.

Alerta campônio,
põe de lado essa enxada,
expele esse arado,
depressa queima tua casa e chora,
porque eu vou morrer.

Atentai todos os homens.
Papai, um instante.
Olhai por cima,
chorai uns três mares e também morrei,
porque eu vou morrer.




Torquato Neto, Bahia 12.10.1961