A alta costura de Giselle Ribeiro vai parar no Hospício
Prêt-à-porter
Primeiro leia este livro
sem compromisso maior.
E se algum poema
nele contido
lhe vestir bem,
sem precisar de ajustes,
ele será todo seu.
Para ir à igreja,
um encontro marcado,
um passeio no bosque,
uma reunião de negócios,
piscina, praia ou cinema.
Para fazer cooper, yoga
ou jogar sinuca.
Afinal, para que mais serve o poema?
Tarefas da vida cotidiana
Lavamos
todos os dias
a palavra amor
até desbotar.
Passamos a ferro
todos os dias
a palavra desejo
até evaporar.
Depois,
lavamos as mãos.
E quando a iluminura
do amor se apaga,
gradativamente,
dizemos aos sonhos:
a convivência mata.
Desintoxicação
ela amava as coisas.
As máquinas todas
eram as suas pulsações:
máquina de calcular
máquina de escrever
máquina de fazer filmes e fotografias
máquina de lavar
máquina de secar...
Mas quando viu
que o coração e os olhos
já estavam secos
Ela quis se descoisar.
Giselle Ribeiro, Pequeno livro de poemas para vestir bem, 2011.
imagem: ney ferraz paiva
Giselle você sempre surpreendendo o leito sem comentário very beautiful saudades beijos
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