O
FIM DAS COISAS COMO NÓS O CONHECEMOS
Faz
parte de uma política perversa na Amazônia a extinção do patrimônio artístico
cultural. A grande máquina do estado e seus sucessivos operadores o expõe a uma exaustão ainda mais brutal que a do tempo. Tanto o patrimônio material quanto
imaterial. Por decreto, indiferença ou abandono. É normal, banal e consentido
pelos demais poderes constituídos, judiciário e legislativo. Faz parte de um
grande cerco de violência. Tratar a cultura artística de forma fascista. Artistas, tornados neutros e neutralizados, num contexto de complexa deformação política, quando
muito, conseguem operar uma autonomia relativizada pela repartição de poder,
espaço e financiamento. O colapso e o desastre seguem uma linha de continuidade
fatal.
Bruno
de Menezes, em luta social e a contrapelo, implanta o movimento modernista em
Belém, em 1923. Vamos logo lá aonde isso vai chegar. O baratismo, a tentacular
política-administrativa do estado, iniciado em 1930, e suas sinistras
ramificações que se estenderão até 1964, confisca, varre o movimento para debaixo do
tapete. Em seguida, com a ditadura, o colapso e o desastre se
intensificam nacionalmente. Daí o que resulta – ou se ignora ou se
conhece muito mau (o que também é desconhecer) o modernismo na Amazônia. Tanto que em recente artigo, um
dos principais críticos literários em atuação no país, referindo-se ao
modernismo entre nós, diz sumariamente: “tardou... mas chegou”. Quando, em
Belém, o movimento foi correlato ao de São Paulo.
Não
há outra via. Os capitães-do-mato seguem tratando o patrimônio artístico e os
artistas com chicote. Habituados às negociações de bastidores, às portas
fechadas, sem nenhum diálogo, consulta, mobilização. “Lei é potoca”, o
slogan baratista ressoa ainda pelos palácios. E uma vez mais, e talvez não seja a última
infelizmente, o fechamento do Museu de Arte Contemporânea na Casa das Onze
Janelas, centro histórico de Belém, para abertura de um polo gastronômico,
pontua estas ações de apagamento da cultura artística e de saque dos bens naturais da Amazônia. A despeito
de firmar um acordo com as demandas do mercado e do consumo, e com o grande espetáculo do
momento, a arte de comer bem, exposta como símbolo de desenvolvimento e
sofisticação, corta, na verdade, a continuidade e os desdobramentos de práticas sócio interativas
livres e abertas com a imagem, a memória e o pensamento contemporâneos.
Ney
Ferraz Paiva
Abraço simbólico dos artistas paraenses no Museu da Casa das Onze Janelas. |
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