ISTO NÃO É UM FILME - MAS É COMO SE FOSSE
ISTO NÃO É UM
FILME, mas se fosse – se é – será o último de Jafar Panahi, um dos mestres do
neo-realismo iraniano, autor de clássicos com O BALÃO BRANCO, O CIRCULO e FORA
DE JOGO, cineasta condenado à prisão por 6 anos, impedido de filmar por 20
anos, de escrever por outros 20, de ser entrevistado por tantos 20. O prêmio é
grotesco, e sorria, se deu origem à morte simbólica de um artista.
Então o que se vê
em tela é a não-história de um herói kafkiano vivendo sua farsa judicial. Preso
em sua casa em Março de 2010, Panahi foi acusado de “propaganda contra o
regime”, por roteirizar uma ficção baseada nos protestos decorrentes da
reeleição do presidente Ahmadinejad em 2009: A história de uma menina aspirante
à faculdade de artes, enclausurada em seu apartamento pelos próprios pais.
Filmado
clandestinamente, contrabandeado para o exterior em um pen-drive dentro de um
bolo, ISTO NÃO É UM FILME é um documento precioso que fornece uma grande
variedade de respostas, crônica de um dia na vida de Jafar Panahi que nada mais
pode fazer além de tomar café da manhã, telefonar ao seu advogado, fazer planos
em um apartamento vazio e, depois, pedir à Mojbata Mirtahmasb, um amigo
documentarista, para filmá-lo enquanto lê trechos de sua história censurada. E
o que vemos não é uma história, mas um cineasta aos gritos, vivendo em
círculos, amordaçado e silenciado.
Tomando
literalmente a sentença para transformá-la em diversão e palco, usando uma fita
como marcação de chão, o primeiro plano do filme imaginário falhou. Então se vê
a raiva inútil, o apego às telas de computador, TV e celular, a meditação na
companhia de uma iguana. Em suma, a ociosidade, a ansiedade e ainda a recusa da
resignação extraordinária que acompanha o simples fato de ser “ex-cineasta”.
Tudo isso resulta
em uma sequência final de virtuosismo impressionante. As imagens são assim:
Reais. Verdadeiras. Ilegais? Sim. Mirtahmasb é de fato preso, depois de filmar
seu não-filme. Uma fita rudimentar, artesanal, mas cuja ousadia é a imagem da
insurgência e o sinal da crença inabalável em alguma liberdade, por menor que
seja, a do mestre em seu cativeiro.
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