disseram: mande um
poema para a revista onde colaboram todos
e eu respondi:
mando se não colaborar ninguém, porque
nada se reparte:
ou se devora tudo
ou não se toca em
nada,
morre-se mil vezes
de uma só morte ou
uma só vez das
mortes todas juntas:
só colaboro na
minha morte:
e eles entenderam
tudo, e pensaram: que este não colabore nunca,
que o demônio o
leve, e foram-se,
e eu fiquei
contente de nada e de ninguém,
e vim logo
escrever este, o mais curto possível, e depressa, e
vazio poema de
sentido e de endereço e
de razão deveras,
só porque sim,
isto é: só porque não agora
HERBERTO HELDER, Servidões, Lisboa, Assírio & Alvim, 2013.
Imagem: Igor Malaschenko, da série "back to babel - back and forth from babel", 2015.
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