Trabalhar cansa
Travessar uma rua fugindo de casa
só um menino o faria, mas este homem que passa
todo dia nas ruas não é mais menino
e não foge de casa.
Em pleno verão,
até as praças se tornam vazias de tarde, deitadas
sob o sol que começa a cair, e este homem que chega
por um parque de plantas inúteis detém-se.
Vale a pena ser só para estar cada vez mais sozinho?
Simplesmente
vagar, pois as praças e ruas
estão
ermas. Forçoso é abordar uma mulher
e
falar-lhe e fazê-la viver com você.
Do
contrário, se fala sozinho. É por isso que às vezes
algum
bêbado à noite dispara discursos
e
repassa os projetos de toda sua vida.
Certamente
não é esperando na praça deserta
que
se encontram pessoas, mas quem anda nas ruas
se
detém vez ou outra. Estivessem a dois
mesmo
andando na rua, sua casa estaria
onde
está a mulher. Valeria a pena.
Mas
de noite essa praça retorna ao vazio
e
este homem que passa não vê as fachadas
entre
luzes inúteis nem ergue seus olhos:
Sente
só o ladrilho que outros homens fizeram
com
mãos secas e duras, assim como as suas.
Não
é justo deixar-se na praça deserta.
Com
certeza há de andar pela rua a mulher
que,
chamada, viria ajudar com a casa.
CESARE PAVESE, Trabalhar Cansa, Cosac Naify
& 7Letras, coleção Ás de Colete, 2009. Tradução:Maurício Santana Dias
Imagem: Saul Leiter
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