Em conversa com
Thomas Bernhard
Hofmann: Vamos jogar um pequeno jogo. O senhor não é agora
o Thomas Bernhard,
mas um vizinho, um agricultor.
Bernhard: E eu tenho que dizer então qualquer coisa sobre o
Thomas Bernhard?
Hofmann: Sim, sim. Há quanto tempo mora já o Thomas
Bernhard em Ohlsdorf?
Bernhard: A mim não me parece que haja tanto tempo, mas ele
afirma que há 25
anos. Mas ele continua a ser novo.
Hofmann: Já falou alguma vez com ele? Têm contato?
Bernhard: Uma vez por ano. Ele muito raramente sai de casa, e
então vai à igreja.
Hofmann: Aonde é que ele vai?
Bernhard: À igreja.
Hofmann: Quando?
Bernhard: De noite, quando mais ninguém vai. Publicamente
não se atreve. Ele
afirma que não tem nenhuma relação com a
igreja e assim isso
é provavelmente desagradável para ele.
Hofmann: E como é que ele é, quando o encontra?
Bernhard: Tímido, muito tímido. Misantropo. Preguiçoso e
misantropo.
Hofmann: Com certeza vêm aqui jornalistas. Vêm então ter
consigo?
Bernhard: Eles vêm então ter comigo e não com ele. E às vezes
conto alguma coisa
sobre ele. Como ele está e como vai.
Hofmann: O senhor é agricultor de profissão.
Bernhard: Sou, fui sempre agricultor. Os meus avós eram
agricultores, e
todos eram agricultores. Os meus filhos também
são...
Hofmann: O que é que pensa de alguém que...
Bernhard: Que não é agricultor?
Hofmann: Que escreve...
Bernhard: isso é uma idiotice, porque não tem utilidade para
ninguém e não serve
de nada. Nada.
Hofmann: Leu alguma coisa dele?
Bernhard: Sim, uma vez. Mas aborrece-me.
Hofmann: O quê?
Bernhard: Já não sei. Ele só diz disparates. É só destrutivo e
perverso e tudo
isso.
Em Conversa com Thomas Bernhard, de Kurt Hofmann, traduzido por José A. Palma Caetano, Assírio & Alvim, Agosto, 2006.
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