o verão envelhece, mãe impiedosa (Sylvia Plath)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Conheci um cara que era marginal, e um dia lhe perguntei: "Mas o que vocês fazem de suas mulheres?" Ele me dizia: "Elas nos esperam, somos duríssimos com elas." Então eu lhe disse: "Mas onde?" Ele me diz: "Nos bares, enquanto jogamos pôquer elas nos esperam." Eu disse: "Mas lá às vezes elas caem no sono, de noite, vocês jogam a noite toda nos bares." E ele: "Bom, elas são obrigadas a esperar, senão, apanham." Bem, ele achava isso incrível, mas afinal, o quê? Você já viu recepções sociais, em que há mulheres que ficam caladas três horas seguidas?... Elas esperam. Estão fantasiadas, cabelos arrumados, foram ao cabeleireiro, estão com um vestido bonito de flores... Mas não têm coragem de falar.


Marguerite Duras, Boas Falas
imagem: performance Dopada, de Laura Lima      

domingo, 11 de dezembro de 2011


É admirável, está no livro La Sorcière. Aliás, há pouco eu queria lhe dizer que foi ele... você se lembra do livro sobre as mulheres quando eu falava dos mênstruos, mas para ele era um... uma fonte de erotismo. Sim, ele dizia que, na alta Idade Média, as mulheres ficavam sozinhas nas fazendas, nas florestas, enquanto o senhor estava na guerra... cito essa história sempre que posso, acho-a sublime... e que se entediavam profundamente em suas fazendas, sozinhas; e que sentiam fome, ele estava nas cruzadas ou na guerra do Senhor, e que foi assim que elas começaram a falar, sozinhas, com as raposas ou com os esquilos, os pássaros, as árvores e que, quando o marido retornava, elas continuavam, isto eu acrescento, do contrário ninguém teria percebido nada, mas foram os homens que as encontraram falando sozinhas na floresta... Pois é, e as queimaram. Para sustar, barrar a loucura, barrar a palavra feminina.


Marguerite Duras, Boas Falas
Imagem: Francesca Woodman

terça-feira, 6 de dezembro de 2011



Após a orgia


Se você caracterizar o atual estado de coisas, eu diria que é o da pós-orgia. A orgia é o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios. Liberação política, liberação sexual, liberação das forças produtivas, liberação das forças destrutivas, liberação da mulher, da criança, das pulsações inconscientes, liberação da arte. Assunção de todos os modelos de representação e de todos os modelos de representação e de todos os modelos de anti-representação. Total orgia de real, de racional, de sexual, de crítica e de anticrítica, de crescimento e de crise de crescimento. Percorremos todos os caminhos da produção e da superprodução virtual de objetos, de signos, de mensagens, de ideologias, de prazeres. Hoje, tudo está liberado, o jogo já está feito e encontramo-nos coletivamente diante da pergunta crucial: O QUE FAZER APÓS A ORGIA?

Só podemos agora simular a orgia e a liberação, fingir que prosseguimos acelerando, mas na realidade aceleramos no vácuo, porque todas as finalidades da liberação já ficaram para trás, e o que nos preocupa, o que nos atormenta é essa antecipação de todos os resultados, a disponibilidade de todos os signos, de todas as formas, de todos os desejos. O que fazer então? Isso é o estado de simulação, aquele em que só podemos repetir todas as cenas porque elas já aconteceram – real ou virtualmente. É o estado da utopia realizada, em que é preciso paradoxalmente continuar a viver como se elas não o estivessem. Mas, já que o estão e já que não podemos ter a esperança de realizá-las, só nos resta hiper-realizá-las numa simulação indefinida. Vivemos na reprodução infinita de ideias, de fantasmas, de imagens, de sonhos que doravante ficaram para trás e que, no entanto, devemos reproduzir numa espécie de indiferença fatal.



Jean Baudrillard, A Transparência do Mal – Ensaio sobre os fenômenos extremos, Papirus Editora, 2004

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

É ISTO UM HOMEM?
Vocês que vivem seguros

em suas cálidas casas,

vocês que, voltando à noite,

encontram comida quente e rostos amigos,

pensem bem se isto é um homem

que trabalha no meio do barro,

que não conhece paz,

que luta por um pedaço de pão,

que morre por um sim ou por um não.

Pensem bem se isto é uma mulher,

sem cabelos e sem nome,

sem mais força para lembrar,

vazios os olhos, frio o ventre,

como um sapo no inverno.

Pensem se isto aconteceu:

eu lhes mando estas palavras.

Gravem-nas em seus corações,

estando em casa, andando na rua,

ao deitar, ao levantar;

repitam-nas a seus filhos.

Ou, senão, desmorone-se a sua casa,

a doença os torne inválidos,

os seus filhos virem o rosto para não vê-los.



Primo Levi
imagem: Franncesca Woodman

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

NÃO ENTRES NESSA NOITE ACOLHEDORA COM DOÇURA

Dylan Thomas


Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.


Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva lhes perdura,
Porque suas palavras não garfaram a centelha esguia,
Eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde baía
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.


Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea altura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua travessia
Não entram nessa noite acolhedora com doçura.



Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os transfigura
Quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se alegraria,
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.


E a ti,meu pai, te imploro agora, lá na cúpula obscura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.


Tradução: Ivan Junqueira

domingo, 20 de novembro de 2011



AMOR NO HOSPÍCIO
DYLAN THOMAS


Uma estranha chegou
A dividir comigo um quarto nessa casa que anda mal da cabeça,
Uma jovem louca como os pássaros


Que trancava a porta da noite com seus braços, suas plumas.
Espigada no leito em desordem
Ela tapeia com nuvens penetrantes a casa à prova dos céus


Até iludir com seus passos o quarto imerso em pesadelo,
Livre como os mortos,
Ou cavalga os oceanos imaginários do pavilhão dos homens.


Chegou possessa
Aquela que admite a ilusória luz através do muro saltitante,
Possuída pelos céus
Ela dorme no catre estreito, e no entanto vagueia na poeira
E no entanto delira à vontade
Sobre as tábuas do manicômio aplainadas por minhas lágrimas deâmbulas.


E arrebatado pela luz de seus braços, enfim, meu Deus, enfim
Posso de fato
Suportar a primeira visão que incendeia as estrelas.


Tradução: Ivan Junqueira

Imagem: Egon Schiele

terça-feira, 1 de novembro de 2011

louvação a santorquato dos matadouros


você dizia a palavra desejo
e outra palavra que não desejo
você dizia prazer aquele prazer
acima do cumprimento banal
olá e aí? beleza: muito prazer
limiares gradientes fluxos
sair era a maneira de não ajustar
repisar imitar obedecer
torquato-inexato anjo não confeccionado
passo trocado muito a fim de todos os fins


ney ferraz paiva

quarta-feira, 26 de outubro de 2011


ADORNO

A tua cabeça ainda vai ser um enfeite lá em casa.
A tua cabeça ainda vai ser o jarro da minha mesa;
e encherei de lápis e canetas que escreverão flores:
cabelos rosa em tua cabeça decepada.
E as oito cadeiras de pinho - sóbrias, sérias -
sorrirão de ti; sorrirão tanto até que as lágrimas
brotem aos borbotões e inundem toda a casa.
E aí o peixe que existe em tua cabeça
vai sair pelo ermo do mar procurando, procurando,
pois os peixes também estão perdidos.

José Inácio Vieira de Melo, poema dedicado a Jorge de Lima, in: 50 Poemas Escolhidos pelo Autor, edições galo branco, 2011
imagem: fotomontagem de Jorge de Lima

sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Chianti no parque. Uma canção


A Poesia sou eu.
A Poesia é Altair.
A Poesia somos todos.
Murilo Mendes




                             Sol & Sombra
                             Sob o arvoredo

Beijo teus pés em Nova York. A poesia és tu
Que esmagas cerejas na boca. É tempo de cerejas na rua
do gato que pesca
Foste a Toscana? Irás a Arles?
Teu buquê de girassóis e a rosa amarela Tua intimação do sangue
Tua intimação do sangue no poema
Tenho saudades de saber de mim
Também tenho saudades de saber de ti


Beijo teu ventre,
                         a bolha
que cresce e flutua
                             dança
                                       tua esperança


Sou um eco de ti. Respiro de ti
falas por mim
                     que falo de ti


És a que une as coisas em mim


Beijo, caótico,
                      o concerto de tudo
                      a orquestra de tudo
                                        e o violoncelo
                      nosso eco de tudo, fundo, fundo


Oh Nina, Nina
                Todas as formas te procuram,
                                            querem saber de ti.


                                            Ver mais
                                                   poeticamente
                                                                o sentido da vida
                            
                            Buscar as coisas escondidas nas coisas


O amor que me une a ti: ver dor, rubor
Ou a cabana, suas entranhas
Marahu        tu        coisa de sorver
           porto-nuvem         toque
                                                 não sei de que


Beijo teu beijo, bebo
teu vinho tinto-encorpado
a ferrugem de tudo, senhora
de tua boca e teus lábios


Oh redondezas, Sônia, Sônia
meretriz imaginária


             é isto comum a todos?
A costura de tudo?
                                poesia?


MAX MARTINS, poema inédito com que Márcia Huber me presenteou, enviado de Munique, de onde vinha de férias, sem nunca deixar de visitar o Max. Ela escreve, generosa: "Segue aqui o arquivo com o poema transcrito. Envio-te também uma foto do poeta no Parque da Residência, que era onde bebíamos, em goles rasos para render, a garrafa de Chianti que eu costumava levar de presente em minhas viagens. Várias garrafas, vários goles, várias manhãs e tardes nesse parque. Voltamos lá várias vezes também, depois do poema, com a Nina." 

sábado, 8 de outubro de 2011


EU E O CÍRIO


A virgem na manhã com cinzas ainda da madrugada
Ou a ginástica, isto é, o poema da infância e da juventude
(anotações de lirismo e romantismo)
Depois veio o sol do meio-dia. A santa caminha em
chamas e calor movido a esplendor. Caminhava em
silêncio, Santa e musa e nuvem. Um caminhar opaco e
lento. As pedras em brasa.


O poema, este meu ofício do verso, com um desenho de
Maria Leontina. As páginas se enchiam sem conta e canto.


No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra.
Eu via a procissão passar na esquina da Avenida
Nazaré com a Doutor Moraes. Muitos e muitos anos seguidos.
O poema indo e vindo, suando. Apertado num terno
branco e gravata. A virgem também usava um vestido branco,
dominical. Mas sem seu corpo dentro e seu rosto me olhando,
uma pedra no meio do caminho.


E eu procurando, procurando, contemplava as imagens
com as minhas retinas tão fatigadas.


Era um branco absoluto na minha memória. Não me
lembrando de nada. Só o rosto faltando, o corpo
faltando no vestido branco.


Maria da Graça. Maria de Nazaré. Não me via
menino sem Marieta.


O Círio sou eu, erótico, sensual, demoníaco, sedento.
A virgem passava entre nuvens, em silêncio.
Seu manto fazia um calor danado. Depois eu esquecia.
Havia o rumor da multidão. Eu via a banda dos bombeiros
passar. Velhas rezavam, se revezavam. Balões, sorveteiros,
brinquedos de Meriti, a roda gigante no arraial da Santa.
Eu esqueço tudo em minhas trevas da catarata,
Da minha isquemia cerebral. Não me lembrava do rosto
de meu amore.


Então quero pedir apenas um pequeno milagre
a vocês de lá de cima: deuses, arcanjos eleitos, fadas, pajés,
filósofos, farmacêuticos, Moodipina, Sinergen, coisas
artesanais, Azopt, colírios. Um pequeno
milagre para não esquecer, fumar menos
para oxigenar o cérebro. Não esquecer o rosto,
o nome da virgem ou musa de vestido branco.

Pois o Círio sou eu. E eu ainda a amo!


Max Martins, O Cadafalso, Belém, Cão-guia, 2001.
Imagem: Flavya Mutran, Ondina, da série Pretérito imperfeito, 2004.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011


4 de junho de 1977. O que me impele a lhe escrever o tempo todo?



Escrever é retirar-se. Não para sua tenda para escrever, mas da sua própria escritura. Cair longe da sua linguagem, emancipá-la ou desampará-la, deixá-la caminhar sozinha e desmunida. Abandonar a palavra. Jacques Derrida

Continuei este vaivém. Depois saí para comprar selos, e ao subir por estas escadas de pedra, perguntava-me como teríamos feito para nos amarmos em 1930 em Berlim, quando era preciso carretas de marcos para comprar, como se diz, um selo.

O que me impele a lhe escrever o tempo todo? Antes mesmo que eu possa voltar-me para ver, do único destino, único, entende, inominável e invisível, que traz seu nome e não tem outro rosto senão o seu, antes mesmo que eu possa voltar-me para uma questão, me é dada a ordem, a cada instante, de lhe escrever, qualquer coisa, mas de lhe escrever, e amo, e nisso reconheço que amo. Não, não apenas isso, também.

Sua voz ainda há pouco (pequena cabine vermelha envidraçada na rua, sob uma árvore, um bêbado olhava-me o tempo todo e queria falar comigo; ele rodava em torno da jaula de vidro, parava de tempos e tempos, um pouco assustador, com um ar solene, como que para pronunciar um julgamento), sua voz mais próxima que nunca. A chance do telefone - nunca perder uma ocasião -, ele nos devolve a voz, em algumas noites, sobretudo de madrugada, melhor ainda quando ela está só e o aparelho nos cega de tudo (não sei se já lhe disse que, ademais, frequentemente fecho os olhos ao falar contigo), quando ela passa bem e o timbre reencontra uma espécie de pureza "filtrada" (é um pouco neste elemento que imagino o retorno das assombrações, pelo efeito ou pela graça de uma triagem sutil e sublime, essencial entre os parasitas, pois só há parasitas, você sabe, portanto as assombrações não têm nenhuma chance, a menos que haja apenas, desde os primeiros "vem", assombrações. Percebi outro dia, durante um pequeno trabalho, que esta palavra "parasita" havia se imposto a mim um número incalculável de vezes, durante anos, de "capítulo" em "capitulo". Ora, eis que parasitas podem se amar. Nós

É este timbre que você me envia então, sem nenhuma mensagem, nenhuma outra que conte, e eu bebo e afogo-me no que bebo. E contudo me reúno a isso cada vez, e de uma vez à outra. Sou todo este timbre, esta série, esta consequência de todas as vezes...

Contudo, enquanto falava comigo com este sentimento de proximidade alucinada (mas separada e mesmo a separação era boa), eu fixava o bêbado inglês, não tirava os olhos dele (ele vestia uma espécie de uniforme), olhávamos-nos, perdão, com uma atenção que minha infinita distração não perturbava em nada.

Estava certo de que ele se parecia com alguém (como ainda acredito, não?) mas impossível saber com quem, ainda agora. Perdão mais uma vez (terei passado minha vida lhe pedindo perdão), não havia pensado no fuso horário.

Mas escrevo-lhe amanhã, digo isto sempre no presente.



Jacques Derrida, Cartão-Postal, 1979, tradução Simone Perelson e Ana Valéria Lessa.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011


5 de junho de 1977. para manter no esquecimento


Gostaria de escrever tão simplesmente, tão simplesmente, tão simplesmente. Sem que nada nunca chamasse atenção, salvo a sua unicamente, e ainda assim, apagando todos os traços, mesmo os mais inaparentes, os que marcam o tom, ou a pertença a um gênero (a carta, por exemplo, ou o cartão-postal), para que a língua sobretudo permaneça secreta à evidência, como se ela se inventasse a cada passo, e como se pegasse fogo imediatamente, assim que um terceiro colocasse os olhos nela (aliás, quando você vai aceitar que nós próprios queimaremos tudo isso?). É um pouco para “banalizar” o número da tragédia única que prefiro os cartões, antes cem cartões ou reproduções no mesmo envelope, a uma única “verdadeira” carta. Ao escrever “verdadeira” carta, lembrei-me da primeira carta vinda de você, que diria exatamente isto, gostaria de ter respondido imediatamente a ela, mas ao falar de “verdadeiras cartas”, você me impedia de escrevê-las

“Envio-lhe novamente Sócrates e Platão

minha pequena apocalipse de biblioteca. Sonhei novamente com o inglês titubeando em torno do telefone: ele esfregava um lápis novo numa caixa de fósforos e eu tentava impedi-lo. Ele corria o risco de queimar sua barba. Então ele gritou seu nome com um sotaque estranho e

Ainda não me restabeleci desta catástrofe reveladora: Platão atrás de Sócrates. Atrás ele sempre esteve, achava-se, mas não desta maneira. Eu sempre soube, e eles também, eles dois, quero dizer. Que casal. Sócrates vira as costas para platô, que fez com ele escrevesse o que ele próprio queria, fingindo que recebia isto dele. Vende-se aqui esta reprodução como post card,

você viu, com greetings e address. Sócrates escrevendo, você se dá conta, e num cartão-postal. Eu não sei nada além do que diz a lenda a esse respeito (é então tirado de um fortune-telling book, livro de astrologia: o futuro, o livro dos destinados, a sorte, o prêmio, o encontro, a chance, não sei, precisarei ver, mas gosto desta idéia), tive vontade de enviá-lo imediatamente a você, como uma novidade, uma aventura, uma sorte ao mesmo tempo anódina e estonteante, a mais antiga e a última.

Uma espécie de mensagem pessoal, um segredo entre nós, o segredo da reprodução. Eles não compreenderiam nada disso. Assim como tudo a que nos destinamos. E, todavia, é um cartão-postal, dois, três cartões-postais idênticos no mesmo envelope. O essencial, se possível, é que o endereço seja único. O que eu gosto no cartão-postal é que mesmo no envelope, ele é feito para circular como uma carta aberta mas ilegível

Escrevo-lhe amanhã mas chegarei provavelmente, mais uma vez, antes da minha carta

Caso contrário, se eu não chegasse, você sabe o que lhe peço sempre para esquecer, para manter no esquecimento


Jacques Derrida, Cartão-Postal, 1979, tradução Simone Perelson e Ana Valéria Lessa.